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23 de setembro de 2014

O futuro pertence àqueles que conservam e multiplicam as sementes crioulas


Quando as famílias de agricultores se visitam, há o costume de levar mudas ou sementes para trocar. A doação ou troca de sementes entre agricultores familiares é uma prática cultural muito antiga, e condição fundamental no melhoramento das espécies ou variedades de plantas. Dessa forma, a humanidade produziu e se alimentou por mais de 10.000 anos.

Porém, em apenas pouco mais de 50 anos, a produção de alimentos sofreu grandes transformações. O modelo industrial agroquímico aplicado no campo por grandes empresas multinacionais negou essas práticas populares de manutenção e melhoramento das espécies, classificando-as como atrasadas. As consequências desse novo modelo de agricultura são muito graves:
  • Redução drástica na base alimentar dos povos: existem mais de 10.000 espécies de plantas comestíveis – os povos primitivos se alimentavam de 1.500 a 3.000 espécies – a agricultura antiga produzia com base em mais de 500 espécies – a agricultura industrial restringiu a base da nossa alimentação a 9 (nove) espécies, que são aquelas que dão mais lucro ao mercado. O trigo, arroz, milho e soja representam 85% do consumo de grãos no mundo. 
  • Crescente deficiência nutricional na alimentação humana: isso é conseqüência direta da redução de diversidade alimentar e também porque essas espécies oferecidas pelo mercado são pobres em muitos minerais e proteínas.
  • Redução da biodiversidade: muitas espécies e variedades já se perderam e as monoculturas vão tomando conta do campo. Há também uma perda da diversidade genética e as plantas vão se tornando cada vez mais susceptíveis a pragas e doenças. A perda da diversidade desequilibra os sistemas – tanto os sistemas naturais como os cultivados.
  • Crescente dependência de grande corporações empresariais: Algumas poucas empresas querem dominar a produção e distribuição de alimentos no mundo. Estamos cada vez mais dependentes dessas empresas para nos alimentarmos e, portanto sujeitos às suas decisões quanto ao que devemos comer e quanto devemos pagar por isso. A ofensiva dos transgênicos é parte dessa estratégia de controle e dominação.
Uma grande quantidade de espécies que usamos na nossa alimentação é nativa das Américas e foram deixadas pelos indígenas (Astecas, Maias, Incas e outros) como por exemplo: milho, batata, mandioca, feijão, algodão tomate, pimenta, amendoim, cacau, abóbora e outros. Outras foram trazidas de outros continentes, como o trigo e o arroz, mas já por centenas de anos são conservadas e melhoradas pelas famílias agricultoras. Essas sementes que são conservadas e melhoradas pelas famílias de agricultores são chamadas de sementes crioulas.

As sementes não podem ser privatizadas ou contaminadas com genes estranhos à espécie, como acontece nos transgênicos, e nem tornar-se objeto de dominação dos povos por parte de corporações empresariais. As sementes são patrimônio da humanidade, pois são um legado de nossos antepassados. Elas são tão importantes para a existência humana que são constantemente celebradas e consagradas.

A disponibilidade e continuidade dessas sementes é virtude e missão da agricultura familiar/camponesa e não depende de nenhuma empresa ou país e, são fundamentais para a garantia de segurança e soberania alimentar dos povos. As sementes crioulas são adaptadas aos ambientes locais, portanto mais resistentes e menos dependentes de insumos, são também a garantia da diversidade alimentar e contribuem com a biodiversidade dentro dos sistemas de produção. A biodiversidade é a base para a sustentabilidade dos ecossistemas (sistemas naturais) e também dos agroecossistemas (sistemas cultivados).

As iniciativas das feiras de sementes como uma forma de conservação das sementes crioulas, são parte de uma esforço global em defesa da liberdade dos agricultores de cultivarem suas sementes, como estratégia de segurança alimentar e sobrevivência.

Saiba mais na primeira roda de prosa da IV Feira de Sementes e Mudas da Chapada dos Veadeiros: "Onde estão as nossas sementes? Erosão Genética, Tecnologias e Poder", com Altacir Bunde, professor e pesquisador da UFT - Universidade Federal do Tocantins; Odirlan Alencar e Sebastião Damasceno, que compartilharão a experiência da COPPABACS, cooperativa de bancos comunitários de sementes, e da ISPN, Instituto Sociedade, População e Natureza; e Sinomar Machado Carvalho e Fernando Ambrósio Trindade, agricultores familiares da Chapada dos Veadeiros e membros diretores da Cooperativa Frutos do Paraíso. Dia 25 de setembro de 2014, às 15h, no Polo da UAB em Alto Paraíso.

(Fonte: Articulação Nacional de Agroecologia)