Entrevista com Nina Laranjeira,
diretora do Centro UnB Cerrado e integrante do Conselho Deliberativo da Rede
Pouso Alto Agroecologia
Por Shaonny Takaiama
Como surgiu a Feira de Sementes e
Mudas da Chapada dos Veadeiros?
A Feira de Sementes e Mudas da
Chapada dos Veadeiros surgiu por uma iniciativa da Cooper Frutos do Paraíso,
que realizou pequena feira de sementes e mudas em um evento do Centro UnB
Cerrado, em 2011 (Feira de Produtos Sustentáveis da Chapada dos Veadeiros). No
ano seguinte, a Cooperativa procurou o Centro UnB Cerrado para realizar
novamente a feira e fizemos juntos em 2012 e 2013.
Em 2014, a organização foi
ampliada para um coletivo, o GT de Agrotóxicos, Transgênicos e Agroecologia do Conselho
Municipal de Defesa de Meio Ambiente de Alto Paraíso de Goiás – COMDEMA -,
numa tendência a envolver mais as organizações da sociedade civil, dando maior
capilaridade ao evento, e com a intenção de chegar de forma mais eficiente aos
agricultores. Já em 2014, a Feira procurou divulgar a recém criada Rede
Pouso Alto Agroecologia, que agora em 2015 realiza a quinta versão. Ou seja, a
Feira vai se tornando um evento da sociedade para a sociedade.
Qual é a importância da Feira de
Sementes para os produtores rurais e para a região da Chapada dos Veadeiros?
Diria que ela é importante
sobretudo para a agricultura familiar, pois quando se fala genericamente em
produtores rurais, falamos também da agricultura industrial, que não tem tanto
interesse nesta Feira. Apesar de que deveria, pois esses agricultores deveriam
buscar aí mudas e sementes do Cerrado para recompor suas áreas de preservação
permanentes e suas reservas legais, mas infelizmente ainda não fazem isso...
Para a agricultura familiar e
comunidades quilombolas da região, a Feira vem trazendo novas perspectivas de
autonomia e conexão. Podemos apontar como benefícios a troca de experiências e
a conexão entre diferentes comunidades e municípios, o que dá visibilidade à
região e a estes agricultores, valorizando seus saberes e fazeres. Além disso,
a troca de sementes e todo esse processo de valorização faz com que essas
comunidades revalorizem a importância dos recursos genéticos que têm em mãos e
passem a conservá-los e a multiplicá-los, o que significa autonomia e
independência do sistema cruel de monopólio de sementes.
A produção de alimentos é uma
questão estratégica no mundo. A soberania alimentar dos povos é uma ameaça ao
poder das grandes multinacionais que tentam dominar o mercado de sementes, na
tentativa de dominar a produção de alimentos no mundo. Alimento é poder!
Buscamos a segurança alimentar do agricultor e a soberania alimentar da Chapada
dos Veadeiros e isso passa pela conservação das sementes e pelo empoderamento
do agricultor.
Outro viés da Feira de Sementes e
Mudas da Chapada dos Veadeiros é a conservação do Cerrado. A produção de mudas
e o comércio de mudas e sementes do cerrado são hoje necessidade imediata para
que o Bioma seja conservado e nossas águas protegidas.
Além disso, este comércio é uma
importante alternativa na geração de renda para os agricultores da região. Ao
mesmo tempo, o espaço de discussão e troca de experiências estabelecido durante
a feira possibilita a criação de uma nova consciência entre todos os participantes,
e não só dos agricultores. A Feira é, sobretudo, um espaço educador para todos
nós. A organização coletiva e o voluntariado envolvido na sua produção fazem
com que o processo instalado seja altamente inovador e educativo para todos os
participantes. Estamos aprendendo a ser sustentáveis e a conviver em harmonia
entre nós e com o ambiente.
É possível estimar quantas
famílias de agricultores já foram beneficiadas pela feira?
É bastante difícil, pois não
temos um levantamento sistemático de todos os participantes, sua origem e
profissão. Há também os beneficiários indiretos, pois as famílias que
participam levam sementes para suas comunidades, compartilham, multiplicam
essas sementes e, com elas, a ideia de trocar, manter e multiplicar seus recursos
genéticos e a viver do "Cerrado em pé".
Qual foi a média de pessoas que
compareceram em cada ano em que a feira foi realizada (2011, 2012, 2013, 2014)?
Para este ano, qual será a média estimada de público?
O público vem crescendo ano a ano
e estimamos que, da última feira, participaram cerca de 300 a 400 pessoas.
Esperamos que este ano o público aumente, pois o evento está ficando conhecido.
Recebemos mensagens de diversas regiões do Brasil. Além de agricultores, vale
ressaltar a presença de estudantes universitários, como por exemplo, a UEG, UFG
e os Institutos Federais de Goiás, além da UnB. Também as instituições públicas
da área: EMATER e EMBRAPA. A Feira vem crescendo e ganhando visibilidade
não só na região, mas no estado de Goiás e DF e mesmo no Brasil.
Por que é importante contribuir
com o financiamento coletivo na plataforma de doações Kickante?
Porque vamos ganhando autonomia.
A Feira precisa existir independentemente dos financiamentos públicos. Fizemos
a Feira nos dois primeiros anos basicamente com recursos de projetos da
UnB, e no terceiro e quarto com recursos do Ministério do Meio Ambiente. Mas
este ano o recursos público acabou e estamos trabalhando com o mínimo. E esse
mínimo, esperamos que venha da sociedade. Entendemos que a conservação do
Cerrado e do patrimônio genético de nossa agrobiodiversidade deve ser uma
bandeira de toda a sociedade.
Para apoiar a Feira de
Sementes e Mudas da Chapada dos Veadeiros e fortalecer o movimento
agroecológico, entre e contribua: kickante.com/feiradesementes