Entrevista com Satyavan Sat, representante do Instituto Biorregional do Cerrado (IBC) na Rede Pouso
Alto Agroecologia e membro da Comissão Organizadora da V Feira de Sementes e
Mudas da Chapada dos Veadeiros
Como surgiu a Feira
de Sementes e Mudas da Chapada dos Veadeiros?
A Feira de Sementes e Mudas da Chapada dos Veadeiros surgiu
em 2011, dentro de outro evento, era uma pequena iniciativa local, voltada para
agricultores, coletores e o pessoal que trabalha com reflorestamento, que
complementava a Feira de Produtos Sustentáveis do Cerrado. A primeira edição
foi realizada pelo Centro UnB Cerrado. A segunda edição também foi realizada
pela universidade e aconteceu junto com outros eventos da UnB, mas já era um
evento independente, com horário exclusivo, após a Feira do Produtor Rural, no
sábado à tarde. Esta edição contou com a participação das cidades
circunvizinhas.
Em 2013, a Feira de Sementes e Mudas da Chapada dos Veadeiros
ganha corpo e passa a ter mais dois dias. A programação passa a incluir cursos
e oficinas. No ano passado, foram 4 dias de feira e o diferencial foi a
inclusão de uma agenda cultural, com apresentação de filmes e atividades
culturais sobre a temática das sementes e agroecologia.
Foi também nesta edição que aconteceu a primeira reunião de
apresentação da Rede Pouso Alto Agroecologia, em que cerca de 50 pessoas
estiveram presentes, entre agricultores, associações e lideranças comunitárias
dos oito municípios que compõem o Território da Cidadania da Chapada dos
Veadeiros.
Qual é a importância
da feira para os produtores rurais da região e para a Chapada dos Veadeiros?
É a oportunidade de os agricultores terem acesso a
variedades de sementes crioulas difíceis de se encontrar atualmente. Os
agricultores perderam o costume de guardar as sementes para os próximos
plantios, devido a industrialização das sementes a cada ano, o agricultor se vê
obrigado a adquirir novas sementes para plantar.
Então, a nossa feira tem um
papel de resgate cultural, resgatar a tradição de se preservar as sementes e a
cultura da agricultura verdadeiramente tradicional, hoje conhecida como
agricultura familiar. Hoje o que é tradicional é o que se tornou convencional, ou
seja, a agricultura empresarial, baseada em agrotóxicos e adubação mineral, mas na verdade
a tradição da agricultura familiar brasileira é a agricultura das sementes da
liberdade, as sementes crioulas.
A partir do momento em que você plantou,
colheu e guardou as sementes para o próximo plantio, você se vê livre do
sistema de compra e venda das sementes industriais. Isso é uma articulação a
nível planetário de aprisionamento da base alimentar da sociedade. Aprisionando
a base da produção agrícola (sementes), você aprisiona toda a sociedade. Isto é
realmente uma coisa assustadora. Este tipo de agricultura é uma agricultura
empresarial.
Já nós somos aqueles pequenininhos, que se rebelaram, que querem
manter o cultivo tradicional de alimentos saudáveis. Muitos agricultores não
têm as sementes, hoje, por exemplo, é raríssimo encontrar um milho crioulo, e
lá na feira, o agricultor vai encontrar estas sementes. Nós queremos estimular
os agricultores a irem à Feira, mesmo que eles não tenham outras sementes para
trocar. O agricultor fica deslumbrado com a diversidade de sementes que ele
encontra na Feira.
Lá é possível encontrar sementes de chia, amaranto, cevada de
fora do país (Tibet), milho e suas diversas variedades e dimensões que fogem do
padrão, como o milho branco, vermelho, preto. Na Feira é possível também encontrar
sementes silvestres nativas do Cerrado, diversas espécies de frutos, árvores protegida
por Lei, como Aroeira, Jatobá, Mogno e Ipês. Temos também o arroz crioulo dos
Kalungas (quilombolas), que cultivam suas sementes há mais de 300 anos, sem
agrotóxico e sem mecanização.
Eu comi um arroz verde super saboroso certa vez,
colhido e destacado no pilão. Aí você vê o que é um arroz de verdade e porque
ele veio a fazer parte da base alimentar de todos os brasileiros. Outras
variedades importantes que os agricultores poderão encontrar na Feira são o feijões,
roxo e vermelho, preto, roxinho, sementes de girassol, abóbora, quiabo, as
batatas doces, inhame, carás, cara moela (do ar) e araruta, raízes bem raras
hoje em dia.
Quantas pessoas participaram da última edição da feira?
Ano passado, nós tivemos 45 expositores de 8 municípios.
Também participaram da Feira as instituições, ONGs, organizações públicas,
comunidades kalungas, assentados da reforma agrária e outras associações. A
irradiação que essa feira possui é bem ampla, pois os agricultores partilham as
sementes entre si. A semente crioula percorre caminhos que a gente não imagina,
esse é um papel bonito de disseminação da feira.
Por que é importante
contribuir com a campanha na Kickante?
Como estamos em um momento de crise no Brasil, não contamos
com recurso público para financiar a realização da Feira de Sementes e Mudas da
Chapada dos Veadeiros, diferentemente das outras edições. Este recurso que
pretendemos arrecadar através do financiamento coletivo será usado
principalmente na parte de Logística, para trazer os agricultores das oito
cidades circunvizinhas que participam do evento, além de hospedá-los e
alimentá-los. As doações servirão também para retribuir o trabalho voluntário
dos envolvidos na organização da Feira. Este ano, nós só contamos com recursos
do PPP-Ecos (retirados do PNUD, pelo Instituto Sociedade, População e Natureza-ISPN).
Além do crowdfounding, temos também buscado o apoio das
prefeituras e institutos parceiros para a realização da feira.
Para apoiar a Feira de Sementes e Mudas da Chapada dos Veadeiros e fortalecer o movimento agroecológico,
entre e contribua: kickante.com/feiradesementes
Para apoiar a Feira de Sementes e Mudas da Chapada dos Veadeiros e fortalecer o movimento agroecológico,
entre e contribua: kickante.com/feiradesementes