Retomar o diálogo iniciado em 2011, sobre a necessidade de articular meios, mobilizar agentes e integrar práticas de resgate da cultura agroecológica, esteve na pauta principal da realização da II Feira de Sementes e Mudas da Chapada dos Veadeiros, promovida pelo Centro UnB Cerrado, em parceria com a Cooper Frutos do Paraíso, nos dias 15 e 16 de dezembro, em Alto Paraíso de Goiás.
Sob a perspectiva da soberania e segurança alimentar, a abertura do ciclo de palestras que deu início à programação da feira trouxe a reflexão sobre o papel da sociedade no enfretamento do modelo hegemônico de produção agrícola, em que o uso de agrotóxicos é colocado na condição sine qua non entre as estratégias de faturamento das grandes empresas. “A soberania alimentar só será de fato uma conquista a medida em que a sociedade civil, por meio dos seus diferentes segmentos, e um deles é a constituição das redes de trocas de sementes e saberes, caminhar segundo o mesmo princípio rumo à efetivação dessa proposta. Portanto é importantíssimo que os sindicatos dos trabalhadores rurais, os quilombolas, os extrativistas, os seringueiros, indígenas, camponeses, se agreguem a esse movimento de resgate e conservação das sementes crioulas, que é a garantia da continuidade da vida”, expôs o professor do Instituto Federal Goiano de Rio Verde, responsável pela abordagem do tema.
Algumas das iniciativas desenvolvidas nos diferentes estados brasileiros, a fim de preservar e legitimar ações de manejo sustentável, foram apresentadas no debate como referências a serem adotadas no ensejo da criação de uma rede que intenciona, entre outros resultados, a independência da classe produtora da região e o desenvolvimento rural sustentável. É o caso do trabalho de ‘Resgate, avaliação, conservação e multiplicação de variedades crioulas’, que intitulou a palestra ministrada pelo representante da AS-PTA do Paraná, Andre Jantara. Ele exibiu dados, métodos e observações sobre práticas bem sucedidas de agricultura familiar no sul do país.
A discussão foi reforçada com a exploração da temática ‘Produção de sementes agroecológicas e autonomia dos agricultores’, a partir de outro exemplo que tem sido atestado em comunidades de Planaltina, no Distrito Federal, onde experimentos de adubação verde e preservação da agrobiodiversidade, acompanhados de estudos e análises dos indicadores de sustentabilidade do cultivo da lavoura, autenticam ano a ano os moldes da agroecologia para o sistema produtivo. Segundo o professor do Núcleo de Estudos, Pesquisa e Extensão em Agroecologia e Sustentabilidade - NEPEAS/FUP/UnB, Flávio Costa, da equipe de pesquisadores, o desafio maior é contar com a sensibilização dos agricultores até que surjam os efeitos esperados com a mudança nas práticas de plantio. “No terceiro ano que o produtor começa a ver os primeiros resultados. No entanto, pensar em autonomia supõe antes a manutenção da biodiversidade, porque quando se trabalha com várias espécies, não só de plantas, mas de insetos, fungos e outros inimigos, que eu chamo de amigos do agricultor no combate de ovos, lagartas e outras pragas, vai sendo reconhecida a importância dessa interação no contexto de produção agroecológica’, justificou o professor da UnB .
O debate sobre sementes florestais também ganhou espaço na rodada de palestras realizada no auditório do Polo da Universidade Aberta do Brasil (UAB) de Alto Paraíso. O diretor do Departamento de Florestas do MMA, Fernando Tatagiba, expôs prioridades do órgão em 2013, que apontam para a regulamentação do Código Florestal e a recuperação de áreas degradadas no país. “Para conseguir recuperar milhões de hectares vamos precisar de sementes. Portanto, quem produz vai ter para quem ofertar e vender. O Código traz uma série de artigos que orienta essa demanda por sementes florestais e prevê que o governo federal deverá lançar um programa de incentivo aos pequenos produtores, especialmente”, pontuou Tatagiba.