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15 de dezembro de 2012

Feira de Sementes e Mudas é sucesso de realização

O momento mais esperado do dia veio depois de um forte temporal que ’lavou’ o município de Alto Paraíso. Mas o sol reapareceu e a programação da tarde de sábado movimentou, pelo segundo ano consecutivo, a troca de sementes crioulas na região




Ao som de uma boa música e em clima de confraternização, a Feira do Produtor Rural foi palco da prática que tem gerado entre agricultores tradicionais a expectativa de preservação cultural  e dos seus princípios de produção.


A troca de sementes reuniu no último fim de semana, em Alto Paraíso de Goiás, expositores de diferentes regiões do país, que trouxeram na bagagem o resgate histórico de gerações. Amilton Fernando Munari, de Maquiné, no Rio Grande do Sul, trouxe mais de 20 variedades de feijão, milho, batata, girassol e outras espécies. O conhecimento sobre cultivo e estocagem foi herdado do pai e avô. Hoje, o produtor que já virou referência da produção orgânica no país, percorre feiras e encontros de Agroecologia para engrossar o coro contra o agronegócio. ‘É o momento de a gente se encontrar e pensar juntos sobre a nossa soberania alimentar e nutricional. Foi muito importante ver o interesse das pessoas, porque a semente que a gente troca leva com ela a cultura. Ela é a vida e nos faz viver mais perto da natureza, senão a gente fica distante, vivendo em um mundo artificial”, comentou Munari.

Variedades centenárias de milho crioulo produzido pelos calungas da região e outras espécies que retratam a riqueza da agrobiodiversidade brasileira, além de mudas e plantas trazidas por moradores do município, atraíram todas as atenções de quem passou pela feira no sábado à tarde. “Eu fiquei muito satisfeito de ver até crianças trocando de sementes.  Esse valores cooperativos sendo disseminados entre elas, pra mim, foi ótimo de ver”, relatou Julio Itacarambi, expositor e agricultor de Alto Paraíso.

Em uma dinâmica de doação, permuta e comercialização, as amostras movimentaram bancos de sementes de produtores rurais, organizações sociais, instituições de ensino, comunidades tradicionais e o que começa a ser formado com a inserção da feira no calendário de eventos da cidade.

A II Feira de Sementes e Mudas da Chapada dos Veadeiros, promovida pelo Centro UnB Cerrado, em parceria com a Cooperativa Frutos do Paraíso, representa o amadurecimento da proposta de criação de uma rede de conservação, difusão e intercâmbio de variedades crioulas na região. A discussão, iniciada em 2011, durante a Feira de Produtos Sustentáveis, ganhou força e visibilidade este ano, reunindo um público ainda mais expressivo. Segundo a organização do evento, mais de 300 pessoas, entre convidados e visitantes, compareceram ao evento.


“A ideia da conservação se faz pela ação e consolidação das redes de reciprocidade. O primeiro passo para que as pessoas se conscientizem da importância das plantas no nosso mundo é que elas despertam um sentimento de proximidade com o reino vegetal. Tem um ditado francês que diz: ‘Para ser feliz por um dia, você bebe uma garrafa de vinho. Por um ano, você se casa com uma linda mulher. Para ser feliz por toda uma vida, você se torna um jardineiro’. Na prática, eu sinto que todo mundo hoje, consciente ou inconscientemente, ouve esse chamado e está começando a  perceber a importância disso.  Então o que a gente está realizando aqui é a instrumentalização e a oportunidade para as pessoas darem vazão a esse sentimento e a essa prática”, expôs o coordenador do evento, Pedro de Castro Guimarães.